Desde a instalação da crise econômica, diversos eventos empresariais e acadêmicos têm apresentado a produtividade como tema, principalmente no varejo.
Desde a instalação da crise econômica, diversos eventos empresariais e acadêmicos têm apresentado a produtividade como tema, principalmente no varejo. Palestras e debates de forte viés econômico-financeiro, com pitadas de tecnologia e, ao longe, a questão de pessoas. Fala-se quase nada sobre processos. Se em momentos de estabilidade o tripé da gestão empresarial “Tecnologia + Processos + Pessoas” precisa funcionar adequadamente, imagine em tempos de crise. Nesse contexto, a palavra-chave talvez nem seja “produtividade”, mas sim “gestão”, como elemento capaz de equilibrar esse tripé em seus aspectos estratégicos e tático-operacionais. Sem capacidade de planejamento e gestão, dificilmente se obtém ganhos consistentes de produtividade e corre-se o risco de ganhar hoje perdendo amanhã.
Considere, por exemplo, a área de planejamento e gestão de mercadorias das empresas de varejo, que precisam maximizar o retorno dos investimentos em estoques, usualmente medido pelo GMROI (Gross Margim Return on Investment). Se diversas análises sugerem que, em média, 50% do capital de giro de um varejista é imobilizado em estoques, então como falar em produtividade no varejo sem analisar detalhadamente a eficiência desse investimento? Nessa área a gestão tende a ser fortemente baseada no feeling, dificultando a visão do apoio que a tecnologia pode trazer à gestão dos negócios. Lidar com tecnologia, em especial plataformas de planejamento e gestão, sempre foi um desafio aos varejistas, principalmente aos de pequeno e médio portes. Mas dificilmente se consegue maximizar os resultados em estoques sem o apoio adequado de tecnologia.
O trabalho em volumes de estoques, margens, pricing, rupturas, composição do sortimento, renovações desse sortimento, distribuição de mercadorias, dentre outros, requerem ciência para serem superados, indo além do feeling. São questões básicas, que se não bem planejadas e geridas podem comprometer a eficiência de todo o negócio, e não apenas dos estoques em si. E as plataformas de planejamento e gestão trazem, essencialmente, ciência embarcada para facilitar a busca por resultados. O feeling é necessário, mas não é suficiente para obter desempenho superior. Pelos projetos que temos conduzido e notícias veiculadas, vemos que varejistas de todos os portes e segmentos parecem estar voltando suas atenções aos resultados analíticos dos seus estoques.
Pode-se então pensar que bastaria a aquisição de uma plataforma tecnológica para resolver tudo, mas não é bem assim. O fator “Processos” também é um desafio gigantesco a ser superado pelas empresas de varejo, dado que implantações tecnológicas sem a revisão e definição prévia dos processos de negócios tende a automatizar o caos. E esse desafio tem muito de cultural, dadas as estruturas das empresas. Por vezes a estrutura familiar e/ou regional das empresas tende a cristalizar processos ineficientes, com ingerências e concentração de poder, em detrimento da produtividade e desempenho. Com estruturas menos profissionalizadas e processos inadequados, os varejistas tenderiam a ter menor grau de governança corporativa. Se os processos funcionam como elo de ligação entre “Tecnologia” e “Pessoas”, torná-los adequados trazem maior efetividade à gestão e possibilitam alcançar desempenhos superiores. Quanto menor a estruturação e eficiência dos processos, menor tende a ser o grau de governança da empresa.
Mas o ponto mais desafiador parece ser “Pessoas”. Afinal, são exatamente elas que utilizam a tecnologia e fazem com que os processos funcionem (ou não). E não se trata da abordagem tradicional das pessoas da linha de frente da operação de varejo, dos pontos de venda. Trata-se, principalmente, das equipes gestoras da empresa, principalmente da área de mercadorias, justamente onde o feeling tende a ser mais valorizado. Nesse sentido, fica ainda mais clara a necessidade de equilibrar “Pessoas “com “Tecnologia “e “Processos”. O varejo tradicionalmente enfrenta grandes dificuldades na contratação e retenção de talentos, tanto pela aparente falta de vocação natural dos profissionais como pela concorrência com outros ramos, como bancos, indústrias, consultorias etc. Com esse cenário, questões como qualificação e desenvolvimento profissional precisam ser endereçadas, lidando com alguns paradoxos: como qualificar pessoas com processos e/ou tecnologia inadequados? Como atrair e reter talentos se a infraestrutura de trabalho limita (e justifica) a baixa produtividade?
Um caminho é a profissionalização da gestão, reduzindo o paternalismo e fomentando a meritocracia como meio para equilibrar o composto “Tecnologia + Processos + Pessoas”. Não é empreitada simples, nem conta com soluções prontas. Cada varejista conduzirá sua gestão conforme seus objetivos, porte, segmento, cultura, valores, recursos, grau de governança etc. A expectativa é que os benefícios do aprimoramento dessa gestão sejam percebidos pelo consumidor, trazendo resultados financeiros consistentes para a empresa. Não há saída, pois, sem isso, os ganhos de produtividade eventualmente obtidos serão como voos de galinha…
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Fonte: O negócio do varejo